O solo e a água são recursos naturais indispensáveis para a agricultura. Pela sua importância para a humanidade, são dedicados dias mundiais para ambos, dia 5 de dezembro para o solo e 22 de março para a água. Nesses dias, através de reuniões, discussões, palestras e divulgação pela mídia é enfatizada a importância desses entes para a sobrevivência da vida na Terra, desde os seres microscópicos até os macroscópicos, inclusive alguns intitulados superiores.
Entretanto, os ditos seres superiores, nem sempre têm o devido entendimento, conhecimento e discernimento relativo aos cuidados necessários para a utilização desses entes naturais em processos produtivos seja de alimentos, de fibras ou de bioenergia. Na ansiedade do lucro imediato e sem tecnologias adequadas e conservativas de produção terminam espoliando esses recursos naturais, causando um desequilíbrio ambiental nefasto à vida.
Os seres superiores, principalmente os ligados à produção agropecuária, sejam produtores rurais ou profissionais da área agrícola, devem eleger todos os 365 dias do ano como Dia Mundial do Solo e da Água. A correta utilização desses recursos naturais, cuja demanda aumenta ano a ano, é vital para sobrevivência do planeta e seus habitantes.
Poderíamos citar vários exemplos de situações em que tanto o solo para produção de alimentos como água potável para dessedentação de humanos e animais é extremamente escasso. Para a grande maioria da população brasileira, sem descartar nossos problemas, é difícil entender a escassez de alimentos e água.
Temos condições de produzir nossos alimentos e disponibilizá-los para a população ou, se temos sede, abrimos uma torneira e a saciamos.
Diferente de muitos seres humanos que não têm alimentos, pois segundo dados da FAO e ONU, um em cada oito habitantes do planeta dorme com fome e 25% da população mundial não tem água potável para saciar a sede. A água doce e potável está cada vez mais escassa e com demanda crescente.
Felizmente, salvo alguns pontos vulneráveis, nós brasileiros vivemos na fartura tanto de alimentos como de água. Nossa capacidade produtiva de alimentos tem batido vários recordes, assumindo nos últimos anos, um importante componente do PIB nacional.
Temos áreas agrícolas com solos agricultáveis, água, luz para fotossíntese, conhecimentos e tecnologias de produção e temos um elemento humano persistente de qualidade no campo, o produtor rural. Dando suporte a esse arcabouço produtivo, a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias geradas pelas Universidades e instituições de pesquisa como Embrapa e Institutos Estaduais, coroado com a disseminação do conhecimento pelos órgãos de extensão como Emater, Cooperativas, Assessorias Técnicas e profissionais autônomos das Ciências Agrárias.
Temos fartura, mas necessitamos saber preservá-la. A Agricultura Conservacionista tem procurado revisar conceitos, discutir sobre estratégias de produção e inserir a utilização de tecnologias adequadas para produção sustentável e ambientalmente equilibrada. Temos muitos pontos positivos, mas nem sempre os recursos solo e água têm sido adequadamente preservados.
A necessidade de manter a água onde ela cai, respeitando os limites dos diferentes solos, é primordial. O correto manejo do solo com a utilização do SISTEMA PLANTIO DIRETO, estimulando as interações físicas, químicas e biológicas desses fatores para que os ciclos biogeoquímicos e hidrológicos funcionem adequadamente para o desenvolvimento das plantas elevando a produtividade com qualidade e segurança alimentar.
Portanto meus caros seres superiores, temos que utilizar o conhecimento disponível com parcimônia, clareza de conceitos, discussões orientadoras, práticas exequíveis e persistência concreta.
Fonte: REVISTA SARGS – Jan/Fev 2021
Eng. Agr. Pedro Alberto Selbach, PhD em Ciência do Solo. Prof. Titular do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia do Rio Grande do Sul – UFRGS.